A psicanálise: de Freud à atualidade [Parte 1]

Vimos no texto anterior (clique aqui para ler) que a psicanálise é, acima de tudo, uma forma de pensar enfocada na subjetividade. Entretanto, muitos me perguntaram:

“ok, entendi como a psicanálise pensa, mas o que ela pensa?”

Freud e a psicanálise

A psicanálise nasceu a partir de uma necessidade.

Freud, que era médico neurologista, não encontrara meio de diagnosticar e tratar certos pacientes, como as histéricas. Seu método atual era ineficiente e segundo estes, os sintomas destas pacientes só poderiam ser fingimentos. Um exemplo concreto destes sintomas é a completa anestesia dos membros inferiores sem nenhum dano biológico que o justifique.

Intrigado por estas pacientes, Freud buscou ir para além das aparências e desenvolveu toda sua teoria enfocada no inconsciente. Analisou principalmente a relação do ser humano com os desejos, as pulsões, as fantasias, os mecanismos de defesa e, é claro, a sexualidade.

Contudo, Freud é muito mal interpretado. Temos sempre que tomar cuidado ao retirar fragmentos de seus textos e criticá-los. Para entender Freud, deve-se sempre observar o contexto e o ano que o fragmento texto se encontra. Se pegarmos um texto anterior a 1920, por exemplo, há de se considerar que Freud ainda não tinha desenvolvido um dos conceitos fundamentais da psicanálise: a pulsão de morte.

E outra coisa fundamental, sexualidade não é sexo. Há sexualidade envolvida em comer uma maçã, por exemplo. Quando ele fala de incesto, esqueça o que você entende por isso e tente entender o significado deste conceito para Freud. Lembre-se, ainda, que Freud escreve em alemão e alguns conceitos não possuem um representante 100% fiel na língua portuguesa, como é o caso dos conceitos traduzidos como fantasmas.

Enfim, temos que pensar também que a psicanálise não é Freud. Ele é “somente” o pai da psicanálise. Assim como o próprio Freud questionou diversas vezes a sua própria teoria, seus filhos, sobrinhos e primos acadêmicos seguiram o seu legado questionando, adaptando e aprimorando a psicanálise.

A psicanálise se expande e ramifica

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A partir daí, nascem determinadas vertentes teóricas dentro da própria psicanálise. Teorias de relação de objeto foram extensamente desenvolvidas por Melaine Klein, Winnicott, entre outros. De outro lado, Lacan cunhava novos conceitos que culminou no nascimento de uma forte vertente que é psicanálise Lacaniana.

Enquanto alguns percorriam novos caminhos, outros continuam a trilha traçada por Freud. Mas sempre se unindo pela forma de pensar o sofrimento humano. E assim, podemos constatar que hoje é difícil encontrar um psicanalista que siga somente um caminho, pois são muito ricas as contribuições dos pós-Freudianos e de outras abordagens voltadas para a subjetividade.

Mesmo que alguns critiquem esta posição mesclada, ela é uma tarefa possível. Há somente de se ter cuidado com os pressupostos teóricos. Lembremos que o próprio André Green (um dos principais revisores da obra de Freud) começou sua jornada mais próximo de Lacan e a terminou se aproximando de Winnicott.

No próximo texto falarei sobre a famosa cura pela fala e a psicanalise na atualidade. Aguarde…

Gregório De Sordi

Psicólogo, CRP 01/16979, mestre e doutor em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília. Foi professor e coordenador do curso de psicologia da UNICEPLAC. É editor associado da revista "Psicologia: Teoria e Pesquisa" (Qualis A1). Tem experiência profissional na área de saúde mental, psicanálise, psicologia clínica e avaliação psicológica. Atende, com enfoque psicanalítico, adolescentes e adultos em consultório particular localizado em Brasília-DF e atendimentos virtuais. Telefone: (61) 999425123

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