Você já ouviu alguma vez a frase de que “psicólogo é doido”? Pois então, já me perguntaram também se o psicólogo, por destrinchar a “mente”, estudando a “loucura” e seus componentes psíquicos, não ficaria mais suscetível a “ficar doido”?
A resposta é não.
Não porque não é isto que vai levar o psicólogo à “loucura”. Pensar que psicólogo é doido é um estereótipo advindo de um estranhamento frente ao papel que se espera de um psicólogo. Um psicólogo “doido” chama tanta atenção quanto um cardiologista fumante ou um dentista banguela. Justamente porque se espera que ele, como é uma pessoa que entende do psiquismo humano, não adoeça. É mais ou menos o que esperamos dos nossos pais quando ainda somos jovens. Esperamos que eles possam nos suportar sem falhar. O que felizmente não acontece.
Sendo assim, psicólogo está tão suscetível à “loucura” quanto qualquer um de seus pacientes. E aqui está a chave da pergunta do título. Já que ele está sim suscetível à “loucura” e é esta que ele deve tratar em sua clínica, ele deveria fazer terapia. Lembrando que para se formar em psicologia não é necessário, somente recomendado. Para se tornar psicanalista pelas escolas de psicanálise, é obrigatório.
Jung falava que “o que não se trata em nós mesmos, não é possível tratar nos outros”. Filósofos como como Foucault vão falar da tarefa de se pôr à prova, de se examinar, do cuidado de si. Porque para tratar dos outros, primeiro temos que começar de nós mesmos.
Você deve ter percebido que “loucura” foi escrito aqui sempre com aspas. Justamente porque fazer terapia não é coisa de louco. A “loucura” é algo que bate na porta de todo mundo, metamorfoseada de inúmeras formas. Em algumas “casas” ela entra harmoniosamente e encontra o seu lugar, em outras entra causando um sofrimento psíquico insuportável. Há ainda aquela que entra e causa sofrimento aos “vizinhos”. O paciente que procura terapia é aquele que permite a entrada do psicólogo em sua casa, expondo a ele as rachaduras das paredes, as roupas jogadas no chão, mas também toda beleza que ali se encontra.. Assim sendo, poderíamos até nos arriscar inverter o dito comum de que “só doido faz terapia” e falar que “doido é aquele que não faz terapia”.
0 comentários