Culpa

Tenho 27 anos. Sou uma pessoa muito tímida, não confio e nem acredito em  mim, na minha capacidade. E com isso acabo me excluindo ou desistindo de algumas coisas.
Eu descobri que sou arrogante, soberba, prepotente, e muito Orgulhosa. Bom,  Acho que sou..
Namorei por 7 anos, e ha mais de 1 ano e meio, terminamos, e com isso fui me descobrindo, e vi os erros que cometi no namoro. Eu queria muito me casar, mais pelo meu gênio muito forte, não deu muito certo, ele tinha medo de casar, e com isso fomos namorando e eu cobrando. Com o tempo eu cansei de esperar e o sentimento foi diminuindo, e eu o tratando diferente, com grosseria, estupidez. desmerecendo-o em alguns aspectos, dizia que ele era moleque por algumas atitudes que ele tinha, ele não crescia como pessoa, não amadurecia. E eu só via os erros dele, só criticava, e hoje vejo que o problema estava em mim. Não nos conversamos mais pois já brigamos mesmo sem estar junto. E qualquer atitude ele fica bravo, magoado ou se sente humilhado.  E eu por ainda gostar dele e sentir muita falta, sofro calada. E me arrependo muito pelo que fiz, pelo meu jeito de ser em todos esses anos. Eu me culpo muito. Ele não queria terminar o namoro, mais também não realizava meus sonhos de comprar uma casa, noivas… Tínhamos um namoro bem rotineiro, chegamos a falar em casamento, mais nunca se concretizava. Ele não fazia por onde na parte financeira, só desconversava. Eu impaciente, e muito ansiosa, não soube esperar.
Ele me amava, mais tinha medo de casar, e eu por vez, acabei falando coisas, fazendo coisas. Destratando. Esnobando.

Me sinto mal por isso. E hoje busco uma solução pra deixar de ser arrogante. Me acho muito arrogante, muito fria, mal amada, amarga.
Sinto que não mereço o amor de ninguém, e mesmo passado tantos anos, nem o amor dele mereço mais. Ao menos amizade, acho que não sou merecedora.
Como corrigir isso? Como voltar a me amar?
Quero muito mudar e ser Humilde. Merecer o que Deus oferece as pessoas com o coração bom e puro.

culpa
Olá,
tem uma palavra que se repete a cada frase que você escreve. E esta palavra é a culpa. Você se sente tão culpada que não sabe mais exatamente o porquê. É culpa de quê? De não ter sido uma pessoa melhor em todos os anos da sua vida? Não, essa é só a superfície. Essa culpa esconde algo muito maior. Talvez de não ter correspondido ao lugar de boa namorada? De não ter conseguido casar? O que será que seus pais estão pensando de você? Sete anos namorando e não casou? Não acredito, minha filha!

E ainda, será que você gosta realmente dele? Ou será que é da casa, do casamento, de ser noiva de alguém?

Quantas perguntas estão na sua cabeça! Mas certamente você nem tem espaço para poder pensar nelas, pois estão ofuscadas por um único sentimento: a culpa.

“Não confio, nem acredito em mim”

Se eu te perguntar hoje quem é você, certamente, não saberás responder.  Ninguém que é arrogante, soberba, prepotente, e muito orgulhosa se considera essas coisas. Ao se considerar prepotente, você já demonstra certa humildade para reconhecer isso, entende? A questão é que pela sua enorme culpa e pela falta que está sentindo, você comprou um discurso alheio sobre a sua pessoa. E dos muitos discursos, de pessoas que gostam de você e daquelas que não gostam, você escolheu esse em particular. Desconsiderando até o que você pensa sobre o mundo.

“Cansei de esperar e o sentimento foi diminuindo”

Você mesma diz que se cansou, que o sentimento diminuiu, mas de repente, você se volta para outro discurso, como se tivesse sido deixada pelo seu príncipe encantado. Nem o seu sentimento você não consegue mais reconhecer. Será que você sente culpa também por ter cansado e ter seu sentimento em relação a ele diminuído?

Quantos anos ele passou com você mesmo? Sete? Quem passa sete anos com uma pessoa tão horrível como você se descreveu? A sua culpa está te impedindo de ver suas qualidades. E não só suas qualidades, mas de se reconhecer como um ser desejante. Uma pessoa que se sente merecedora daquelas coisas que aspira. Em você, isso está invertido: você espera por migalhas, pois não pode mais demandar nada.culpa

Você disse que está se descobrindo agora. Isso é bom. Errar te permite a mudança por retirar a estabilidade em que você se encontrava. Errar é humano e só quando percebemos o erro que podemos melhorar. Mas a sua culpa te impede disso. O grande desafio que você tem que responder agora é: quem é você, para além dessa culpa toda?

“Sinto que não mereço o amor de ninguém, e mesmo passados tantos anos, nem o amor dele mereço mais. Ao menos amizade, acho que não sou merecedora”

Você fala como se tivesse feito a pior coisa do mundo. Um pecado imperdoável. O que você espera é uma punição. Porque é isso que sente que merece em sua posição masoquista. Algo que te dará um equilibro pelo pecado imperdoável que fez. Ou, pelo menos, sente que fez. Na verdade, você não pode ser perdoada, porque isso implicaria lidar justamente com o que essa culpa está no lugar. Esse seu sentimento de culpa esconde um mal muito maior. O processo inconsciente que está acontecendo é, por não suportar o sentimento de culpa, você superinveste nela masoquistamente. Por isso ela aparece em todas as suas falas e se torna algo importante para você. Paradoxal, não? E por isso, recomendo que procure um psicanalista para te ajudar neste processo. A psicoterapia é um lugar importante para que você consiga elaborar suas questões. Acredite, independente do que você tenha feito, você merece receber ajuda. Procure-a. Você não precisa trilhar seu caminho sozinha e se martirizar durante o percurso todo. Este email que me enviou já é uma prova de que você se sente merecedora dessa ajuda. Então, mãos à obra!

Gregório De Sordi

Psicólogo, CRP 01/16979, mestre e doutor em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília. Foi professor e coordenador do curso de psicologia da UNICEPLAC. É editor associado da revista "Psicologia: Teoria e Pesquisa" (Qualis A1). Tem experiência profissional na área de saúde mental, psicanálise, psicologia clínica e avaliação psicológica. Atende, com enfoque psicanalítico, adolescentes e adultos em consultório particular localizado em Brasília-DF e atendimentos virtuais. Telefone: (61) 999425123

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