A ganância e a busca eterna

 

Quem me dera, ao menos uma vez, Provar que quem tem mais do que precisa ter, quase sempre se convence que não tem o bastante.

 Renato Russo

Mas… Por Que Será que isso acontece?

Sempre pensei que se você não sabe quanto dinheiro tem, é porque tem dinheiro demais. Por acaso você saberia me dizer a diferença de um bilhão e dois bilhões? Um é o dobro do outro e mesmo assim parecem ser a mesma coisa.

É porque um bilhão é tanto dinheiro que parece ser infinito. E me diga qual número é maior: infinito ou infinito mais um bilhão?

Você fica muito tentado a falar o infinito mais um bilhão né? Mas a resposta é que infinito não tem fim, portanto não há número maior.

Mas… o que pode explicar uma ganância que não conhece limites?ganancia

Vamos pensar primeiro no que é a ganância. Você deseja algo e vai em busca daquilo. Isso, na verdade, é a definição de ambição. A ganância é, então, uma ambição que não se acaba. É quando aquilo que está sendo buscado não mais tem poder de satisfazer àquele que o busca. Imagine uma fome, mas uma fome que nunca se esgota. Mudam-se os objetos e as pessoas como se fossem comidas descartáveis.

Para tentar explicar esse fenômeno, dividirei a explicação em duas partes:

1)      Dimensão social

Olhe em volta de você, veja o que conquistou, veja o que possui. O que você deseja que possuísse e não possui? E o que você acha que não precisava ter? Será que o Iphone 5 é realmente tão incrível que fez várias pessoas jogarem seus Iphones 4 fora?

O capitalismo necessita movimento. E o movimento vem da falta, do desejo. Portanto, pessoas satisfeitas não são rentáveis.  O capitalismo aprendeu nos últimos tempos a aumentar as vendas fazendo com que seus clientes fiquem parcialmente satisfeitos. Assim, sempre haverá a busca pelo algo mais.

Antigamente, produtos como televisões, sons, etc, eram produzidos para duraram cerca de 10 anos. Hoje, são produzidos para durarem somente 2 (depende do produto e marca, é claro). Assim, se economiza nos componentes (utilizando matérias baratos) e ainda faz com que seus clientes comprem novamente. Até hoje tenho em casa um som de 30 anos atrás que está em melhores condições do que o de 4 anos atrás.

O importante aqui é pensar que somos incentivados a não ficarmos satisfeitos. Como consequência, podemos ver sujeitos-mercadorias que se metamorfoseiam rapidamente para consumir o mais novo lançamento do mercado. Lançamento, este, que se fundamenta na promessa de preenchimento de um vazio existencial criado e que nunca se concretiza. Como a completude buscada a partir objetos substutivos nunca é encontrada, instaura-se um ciclo incessante de busca do inatingível.

2)      Dimensão  individual

Agora, como você é influenciado por estas questões sociais é outra história. E pensando em uma pessoa consumida pela ganância, podemos ver justamente uma coisa: a eterna insatisfação.

Seja influenciada pela sociedade, seja por projeção dos pais, seja pela introjeção de uma ideia, ou quaisquer outros motivos particulares, o vazio foi instaurado. Não é mais uma questão de dinheiro, de poder, de amor, de conquista. O que mais importa é a busca.

Você já passou pela sensação de desejar tanto algo, por tanto tempo, que desejar isto passou a ser parte de quem você é? Conseguindo o que você teoricamente mais deseja, então, você na verdade perderia algo. Doido não?

Há um apego ao desejo. Ao desejo de desejar. De buscar. Onde não se sabe mais o que está buscando, mas ficar parado não é uma escolha.

Podemos ver um exemplo que está na mídia de forma recorrente: A busca pelos mil gols de Túlio Maravilha.

Ganância

Jogador de Seleção Brasileira, campeão e ídolo no Botafogo, Senador da República. Ótimo currículo não?

Não! Ele, aos 43 anos, continua jogando, cada hora em times mais simples, 2ª divisão, 3ª… E agora, chegou ao fim do poço: amistosos.

Ele simplesmente não consegue parar. Os mil gols (em sua própria contagem) se tornaram uma obsessão, um número que para ele esconde a deprimente decadência de um jogador que recusa a aposentadoria.

Podem anotar, depois de fazer os mil gols (em um amistoso contra o Tabajara F.C), O Túlio vai buscar outro mil. Não importa qual seja.

Ganância e a pobreza

Enquanto isso, na Africa ou em um local mais próximo que você imagina…

Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante.

Renato Russo
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Gregório De Sordi

Psicólogo, CRP 01/16979, mestre e doutor em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília. Foi professor e coordenador do curso de psicologia da UNICEPLAC. É editor associado da revista "Psicologia: Teoria e Pesquisa" (Qualis A1). Tem experiência profissional na área de saúde mental, psicanálise, psicologia clínica e avaliação psicológica. Atende, com enfoque psicanalítico, adolescentes e adultos em consultório particular localizado em Brasília-DF e atendimentos virtuais. Telefone: (61) 999425123

3 Comentários

  1. é incrivel todos nós somos gananciosos de uma forma ou de outra ,temos os olhos maior q a barriga e nao obeservamos oq esiste ao nosso ao redor . sabendo q tudo é descartavel .

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  2. Incrível como a ganância torna tudo descartável ao mesmo tempo que nos faz buscar justamente esse descartável sem questioná-lo, né?! Para refletir! =]

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