O que na verdade estamos reivindicando?

Primeiramente, parabéns! As imagens realmente impressionam e falam por si mesmas.

corrupção

Porém, precisamos pensar agora na concretude das nossas reivindicações. Como havia muita coisa acumulada, o que houve foi uma explosão gigantesca onde está sendo expelida toda nossa frustração de anos de conivência diante de absurdos.

Isso faz com que este movimento seja, de certa forma, heterogêneo. São múltiplas as reivindicações: corrupção, melhorias na saúde, no transporte público, etc. Muitas não tem nenhuma ligação entre a outra. Algumas são contra tudo. A ligação entre elas está em um sentimento. Um sentimento realmente muito bonito que invadiu cada um dos Brasileiros ao ver a violência da repressão que estamos sujeitos.

Mas um sentimento é algo muito abstrato e volátil. E sem algo conciso para ele se agarrar, ele pode ser manipulado ou direcionado para um fim não construtivo (ex: vandalismo).

Temos de ter muito cuidado, pois os manipuladores e aproveitadores estão aí e não é preciso nem citar quem são. É só pensar em quem pode ser particularmente beneficiado pelo movimento.

Por isso há um certo receio de certas pessoas quanto ao futuro deste movimento (ver este ótimo texto). Reconheço o valor desta preocupação. Mas penso que o caminho não é uma linha reta, é uma linha que está se formando e só se forma com muito diálogo e engajamento. Você mesmo, caro leitor, concorde ou não com tudo que está escrito aqui, está contribuindo para isso simplesmente por gastar seu tempo pensando e lendo sobre o assunto.

corrupção, protestos e manifestosO momento agora é de aproveitar este sentimento e o engajamento social para também pensar, discutir e refletir sobre o país. Encontrar uma coesão entre os nossos sentimentos de revolta com aquilo que reivindicamos. Essa ligação, se bem realizada, cria a sólida sustentação que estamos precisando.

O que nós vamos reivindicar de concreto? Porque na ditadura ou no impeachment do Collor existia um claro e específico alvo, ou pelo menos se criou um. O alvo agora não é único. Não adianta somente mudar uma pessoa daqui e outra dali. Vimos durante anos mudanças partidárias e pouca mudança em suas atitudes quando chegaram ao poder.  É necessário algo mais do que substituir: é necessário criar.

Quais são, então, os pilares que sustentam a corrupção, o superfaturamento das obras, os altos salários dos parlamentares, enquanto o salário mínimo fica em R$ 678,00,  a saúde precária, a educação desvalorizada, etc?

Tentei compilar algumas ideias, aproveite o espaço dos comentários dar suas sugestões.

Diminuição dos salários dos parlamentares e instauração do ponto eletrônico: Não é preciso nem falar em números. A hora de trabalho dos parlamentares e muitos outros que direta e indiretamente estão relacionados a eles é supervalorizada. E o que não faz o menor sentido, eles são capazes de aumentar o próprio salário  (Veja aqui o aumento de 2010). Quem não gostaria de aumentar o próprio salário em? Eles precisam estar subordinados a algo ou alguém.

Imunidade parlamentar: Definição: Inviolabilidade dos membros do Poder Legislativo por suas opiniões, palavras e votos. Nessas circunstâncias, estão excluídos das conseqüências penais, a fim de que, com liberdade ampla, exerçam o mandato. Na prática ela é utilizada como escudo para a corrupção. Uma coisa é haver corrupção como em todos os países há. Porém, quando se descobre um ato de corrupção, no Brasil quase não há punição. Temos milhares de exemplos (veja aqui, é de 2011, mas ainda é atual). Crimes de corrupção deveriam ser considerados prioridade, pois afetam indiretamente todos os brasileiros.

Planos de saúde para parlamentares: É um absurdo que aqueles que, de certa forma, são responsáveis pelas condições dos serviços de saúde não se utilizem dela. Com seus salários, eles já poderiam pagar um serviço de saúde particular. Mas ainda assim, possuem planos de saúde para que não se utilizem dos serviços públicos (Veja aqui). É como um cozinheiro que não come a própria comida…

Voto obrigatório: Nas propagandas antes das eleições se fala muito do direito de votar. Mas ele é completamente ilusório e distorcido. Quando algo se torna uma obrigação, não é mais um direito. É exatamente o contrário, não há o direito de não votar. Li um comentário falando que “o povo que vota é o mesmo que está nas ruas agora protestando, estranha não?”. Mentira! O povo que vota são todos os brasileiros, independente de seu engajamento social ou responsabilização com o futuro do país. A eliminação do voto obrigatório possibilitaria o surgimento naqueles que ainda não tem de uma responsabilização maior pelo seu voto. E ainda, valorizaria os votos conscientes pela diminuição do numero de eleitores.

É impossível falar sobre tudo, meu objetivo é abrir a reflexão para que ao invés de reclamar do transporte de modo geral, seja exigido a redução da passagem, o passe livre, mais e melhores ônibus. Ao invés de reclamar da corrupção, se possa lutar contra os pilares que a sustenta. Na educação, que seja demandado um aumento salarial aos professores e maior infraestrutura nas escolas. Seja exigida a reforma política, a diminuição dos impostos, etc.

Vamos nos manifestar contra a PEC 37, mas vamos pensar também nas que poderíamos ser a favor, como essa que torna a corrupção crime hediondo? Ou quem sabe um projeto que obriga a utilização de escolas públicas pelos parlamentares? Ou ainda, que tal algo novo? O que você propõe?

Pensemos…

O que você vai reivindicar de concreto?

O que faria você ficar satisfeito?

 O que você acredita ser possível de ser feito neste momento?

Gregório De Sordi

Psicólogo, CRP 01/16979, mestre e doutor em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília. Foi professor e coordenador do curso de psicologia da UNICEPLAC. É editor associado da revista "Psicologia: Teoria e Pesquisa" (Qualis A1). Tem experiência profissional na área de saúde mental, psicanálise, psicologia clínica e avaliação psicológica. Atende, com enfoque psicanalítico, adolescentes e adultos em consultório particular localizado em Brasília-DF e atendimentos virtuais. Telefone: (61) 999425123

11 Comentários

  1. Uma força do povo que teve todo esse poder de movimentar um governo de varias bandeiras porem juntos e misturados na corrupçao e coronelismos e movido por lideranças que nos governam mesmo condenados pelo STJ só temos uma maneira de legitimarmos nossas reivindicaçoes, IMPEACHMENT já . Continuamos sendo envolvidos pelos que acham que nao temos memória. Portanto nao podemos esperar e eles acham que podemos, pois ate agora nada fizeram a nao ser oferecer merrecas a que ja estamos acostumados. Necessitamos de representantes poderosos ( e temos ) la no Planalto e midias que anunciem as verdadeiras mudanças e nao a compra de votos com as tradicionais bolsas familias(no lugar de emprego) bolsa rivotril para dormir nosso Brasil. CHEGAAAAAAAA..

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  2. A verdadeira história tem que ser escrita nas urnas! voto consciente, mudança nas leis eleitorais, ficha limpa, o voto é que vai mudar a história do Brasil!!!!

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  3. Concordo totalmente que devem começar a ser definidas pautas, objetivos específicos que deixem claros as reivindicações. Mas também acho importante deixar claro que o cumprimento delas não põe fim ao movimento. O movimento é o começo de uma série de exigências que o povo clama.
    $ deputados: não acho q diminuir seja o caso. Existe uma filosofia de 'direitos adquiridos' que tem sempre q ser levada em consideração. Acho, porém, q o 14 e 15 salário não tem o menor cabimento! Uma boa alternativa é atrelar o salário dos deputados ao salário mínimo.
    De forma geral, acho q existem causas urgentes que podem ser colocadas na agenda do legislativo de imediato.
    A primeira é o fim do voto secreto no plenário. Isso não existe, é uma piada e tem q acabar agora!
    Outra é em relação aos deputados cassados: tem que sair imediatamente! Existem deputados cassados em cargos de presidência de comissões. Renan, Genuíno etc, RUA! Além disso, rediscutir o regimento das casas: um absurdo essa porra de poder sair antes da cassação e depois se eleger de novo e tal… tem q ser feita uma parada séria!
    Acho q isso seria um bom começo. São medidas imediatistas e q passam um bom recado.
    Em seguida acho q deveriam começar a ser discutidos planos de melhoria e medidas mais estruturas q acho q se levantadas num primeiro momento, podem atrasar o processo e fazê-lo perder força. Aqui sim entraria a questão do voto obrigatório, resgate do transporte público de brasília, educação, e repensar a forma como são julgados, investigados etc atos de corrupção.

    Vamo q vamo!

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  4. Acho que o movimento só vai conseguir unificar pautas se buscarmos juntos mudanças estruturais. Tira-se Sarney e chegam mais Sarneys. Conseguiram um impeachment de um presidente e vieram mais Collors. Além do mais, em um governo democrático e republicano o poder não se concentra em uma só mão ou uma só cabeça (ainda bem!). Penso que hoje a estrutura legislativa do país está podre.

    Voto secreto de deputados e senadores são instrumentos de conluio partidário e teatro para o cidadão.

    14º e 15º salário é uma vergonha sem sentido e sem qualquer legitimidade.

    Decisões estatais com viés religioso é outra coisa que não podemos admitir no nosso país. O estado laico precisa se fortalecer para que todos os povos, independente de cultura, cor, gênero, raça e orientação sexual sejam respeitados como cidadãos e cidadãs!

    Investimento em saúde e em educação, é claro! Mas, precisa ser também concreto! Que tipo de investimentos estamos pedindo? Talvez exigir um mínimo maior de investimento do nosso PIB nesses setores seja um caminho.

    Diminuir a passagem, aliás, é só um inicio. Precisamos garantir que o Estado esteja mais preocupado em investir em transporte público do que em incentivar que mais e mais pessoas comprem seus carros, como se faz com a redução do ipva constantemente…

    Precisamos garantir que nossas reivindicações se tornem políticas de Estado e não de governos ou de partidos!

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    • Um pouco das minhas reflexões sobre o movimento, Marcela Moraes!

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    • Muito boa a reflexão.As manifestações precisam agora ter foco, ontem vi aqui na Paulista o protesto virando festa, gente com cerveja, vodca, batucada e confesso que fiquei com medo de que tudo isso acabe em Carnaval fora de época. Era meia noite e as pessoas começaram a gritar 1, 2, 3 vamo bloquear a 23, uma outra avenida aqui. Com qual propósito? eu me perguntava. Acho que foi bom todo mundo levantar a bunda da cadeira, mas agora precisamos saber reivindicar mesmo.

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    • Oi Ma!! Estou meio corrida aqui… Mas então, é isso.. eu tenho muitas reivindicações pelo Brasil, mas não sei se elas estão representadas nesse movimento! Entende? O meu medo é de daqui a pouco tudo cair num vazio… No sentido que a Silvia tá falando… Se dissipar, que nem fumaça… Acho importante ter foco, ter pauta…Acho que daria uma maior força de mudança. Por que como você muda algo se não está bem definido o que quer mudar…

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    • Ah, e concordo também com as suas reivindicações!! Mas são as do movimento, também? E acho que além dos investimentos… temos que lutar pela parte da execução… porque às vezes até tem o investimento, mas é mal utilizado, mal administrado… desviado, etc.

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    • Ma, dei uma lida rápida agora no texto do Greg… acho que de certa forma tem a ver com o que eu penseo/sinto…

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  5. Inclui a "Cura Gay" no texto também. Esse Feliciano é um babaca.

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