Qual é o sentido da vida?

Essa é uma pergunta difícil. Até mesmo o budismo que prega o desapego aos desejos materiais, enfatiza a importância de ser uma boa pessoa e ajudar os outros. E por quê? Porque mesmo desapegando dos desejos inerentes ao psiquismo e ao corpo, que são fonte de sofrimento, ainda há de se responder à angústia carregada por uma questão fundamental: Por que estou aqui?

Pergunta comum aos depressivos e reflexivos de plantão.

Não é uma regra. Todo mundo está sujeito a pensar sobre o sentido da vida. Mas é na hora da reflexão e nos momentos que estamos para baixo que ela mais fica na cabeça. Enquanto as coisas estiverem fluindo bem, o dinheiro entrando, o trabalho, a vida pessoal, etc, as questões existenciais ficam debaixo do tapete. Quando a casa cai é que a sujeira aparece.

Está sempre presente. Tem lugar cativo no psiquismo humano.

Você pode ter essa pergunta respondida, mas a resposta tem prazo de validade. Não falam em crise dos 20, dos 30? É a mesma questão adaptada a este determinado momento: O que estou fazendo da minha vida? Para onde ela está indo? Quando as circunstâncias que mantém as perguntas existenciais mudam, a pergunta sobre o sentido da vida reaparece.

Derruba desde o pequeno estagiário ao poderoso presidente.

Qual é o sentido da vida?

“ser ou não ser…”

Não importa quem você é, ela vai aparecer na sua cabeça mais cedo ou mais tarde.

Grandes filósofos martelaram suas cabeças durante muitas noites pensando no sentido da vida. E se há um consenso sobre as suas conclusões é: não há um consenso.

Mas… Qual a importância disso tudo?

Uma coisa não representa nada sem um sentido.  Tanto que é isso que se trabalha em terapia. Não são os acontecimentos em si ou os sofrimentos o foco central, mas os sentidos deles. Um evento potencialmente traumático só se torna um trauma quando associado a um sentido particular, ou quando é tão aversivo que o sentido não é encontrado ou é recalcado. A partir do sentido é que vêm os sintomas, angústias, fobias, etc. No final das contas o cerne da questão acaba não sendo mais o que aconteceu, mas o que advém dele: o sentido.

O sentido da vida nos guia e nos assombra.

É pelo sentido que damos a tudo que está a nossa volta que nos guiamos no caminho da vida. É o nosso livro particular sobre o certo e o errado, sobre o permitido e proibido, desde os desejos e aspirações, até às frustrações e perdas. É o que nos move e o que nos assombra desde o momento que saímos do confortável útero materno.

Mas então, qual é o sentido da vida?

 

O sentido da vida é buscar sentido para a vida.

 

Qual o sentido da sua?


Gregório De Sordi

Psicólogo, CRP 01/16979, mestre e doutor em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília. Foi professor e coordenador do curso de psicologia da UNICEPLAC. É editor associado da revista "Psicologia: Teoria e Pesquisa" (Qualis A1). Tem experiência profissional na área de saúde mental, psicanálise, psicologia clínica e avaliação psicológica. Atende, com enfoque psicanalítico, adolescentes e adultos em consultório particular localizado em Brasília-DF e atendimentos virtuais. Telefone: (61) 999425123

8 Comentários

  1. O Sentido da Vida(?)
    O que mais nos falta são perguntas certas. E isso tem tudo a ver com encontrar um sentido para a vida. A gente admira muito quem tem respostas na ponta da língua. Aristóteles, filósofo grego, dizia para a gente não se preocupar com isso, pois a resposta certa vem quando a pergunta certa é feita. Acontece que há poucas pessoas que tem a resposta certa. E sobram pessoas que têm a resposta na ponta da língua. Há três perguntas fundamentais que devemos nos fazer rotineiramente: quem sou eu?, quem eu gostaria de ser? e o que é que eu estou fazendo para me tornar a pessoa que, de fato, quero ser?. “Aristóteles diz que, ao fazer essas perguntas, nós de fato encontraríamos o sentido da vida”. As respostas da primeira e da segunda pergunta precisam ser diferentes. Se não, ou você é perfeito ou você está pronto, acabado e, provavelmente, este é o último dia da sua vida. Decidi que, aconteça o que tiver de acontecer, quero continuar sendo curioso. Qual é o sentido da vida? Arrisco afirmar: talvez seja perceber o significado nas coisas que você faz. Para complicar sabemos que não nascemos prontos, nem acabados.

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  2. Talvez sentir o verdadeiro sentido de amar cada passo que damos na vida nos faça sentir util para uma coisa que tem sentido para cada um de nós, ou invertidamente a verdade sobre a mesa daquilo que procuramos e nao sabemos que estender a mão é só um gesto maravilho que nos faz dar sentido a vida , ser o pó e ter certeza que nenhum vento te levará. Potencializar inverdades que criamos ao longo das nossas vaidades meteoricas ou tentadoras , mastigando cada palavra para que no amanha nem mesmo nos comprendamos qual o SENTIDO????QUE VIDA???QUE FIM LEVARAM TODAS A FLORES…….??

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  3. O mais lindo de toda essa busca para mim é que esse sentido é único para cada pessoa e talvez significado de forma diferente a cada momento! E olha que essa sociedade capitalista, massificadora e fugaz insiste em querer nos impor sentidos, nos vender valores e nos determinar desejos! Não! Vamos resistir e lutar pelas nossas buscas, nossas incertezas e nossos sentidos! =]

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  4. Muito bom o texto. Gostei particularmente do modo suscinto e objetivo que vc tratou as perspectivas do tema. Mas tenho que discordar da introdução no que diz respeito ao budismo. Independente da escola, seja ela Theravada, Terra-Pura, Zen ou Vajrayana o desapego não é ao corpo e os desejos não pertecem ao mesmo. O desapego buscado é o da ilusão do ego, ou da crença de que o nosso eu possui existência inerente e que somos individuos separados um dos outros, os desejos tem origem no eu. Tendo isso em vista, a pergunta "porque estou aqui" não se sustenta dentro do budismo pois ela também tem origem na idéia de um eu. Sendo assim, é justamento o apego a esta ilusão que é a origem do sofrimento e não ao corpo, Se veem o corpo como origem do sofrimento é porque o corpo é extensão do eu, mas não é do corpo que vem o sofrimento.

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    • Obrigado. Budismo não é realmente a minha especialidade, mas é possível que você não tenha compreendido o que eu disse. Corpo está escrito ali no seu sentido mais amplo, no seu sentido psicanalítico. A minha compreensão de que o corpo está inerentemente ligado a questão do sofrimento tem fundamento nas Quatro Nobres Verdades (a vida como a conhecemos é finalmente levada ao sofrimento e/ou mal-estar (dukkha); o sofrimento é causado pelo desejo (trishna); o sofrimento acaba quando termina o desejo; esse estado é conquistado através dos caminhos ensinados pelo Buda). Ou seja, há elementos que atingem o corpo como algumas pulsões e os desejos que devem ser trabalhados de acordo com as diretrizes budistas. Mas você está certo que a noção de corpo varia de acordo com a abordagem. Para evitar confusão, atualizei ali. Obrigado pela crítica.

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    • realmente não compreendi o que você havia escrito, faz mais sentido agora que estou olhando pela perspectiva psicanlitica. Ainda sim, não concordo com essa interpretação das 4 nobres verdades. Desejo e apego são coisas diferentes. As traduções do pali as vezes causam confusões. http://opicodamontanha.blogspot.com.br/2012_01_01_archive.html, nesse link tem um texto zen budista muito pertinente a este assunto.

      Mais uma vez gostaria de parabeniza-lo pelo blog. Estou gostando muito da linguagem acessível que você vem utilizando. Já tá nos meus favoritos e no face! XD

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    • Bom. Esta consideração não altera o resto do texto né? Você realmente deve ter mais conhecimento sobre Budismo que eu.
      Obrigado pelos elogios. Você pode assinar o feed que aí você receberá um email sempre que eu postar algo.
      A linguagem é proposital. É muito mais difícil escrever simples do que escrever difícil.
      Ano passado eu escrevi 3 artigos e vi que a minha escrita estava começando a se encaminhar para o mesmo fim da maioria: Texto correto, mas chato de se ler. Então eu resolvi criar o blog.

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